Esperou três semanas pelo convite que não chegou. À quarta semana veio sem ser convidada. Encontrou uma casa sem número de porta, numa rua que não vem no mapa e no meio de uma localidade sem placas que a denunciem. A mesma eficácia germânica fez com que também descobrisse a identidade da única pessoa que, para além de mim própria, possuía uma chave. Instalou-se antes de eu chegar. Mudou a disposição dos móveis. Atirou as minhas refeições pré-cozinhadas para o lixo. Reorganizou-me o roupeiro. Disciplinou a empregada. Desceu de Lisboa ao inferno com a finalidade de inspeccionar as minhas novas condições de vida. Durante três dias – ou terão sido três anos? – fiscalizou tudo. Desde o número de curvas que faço no percurso de quinze quilómetros de casa para o trabalho, à qualidade da carne do único supermercado disponível, aos níveis de sal do pão que me vendem, ao grão de areia das praias mais próximas, à árvore genealógica do meu senhorio israelita.
No final, porque o pragmatismo é hereditário e o meu tem fonte conhecida, concluiu da seguinte forma:
- Bem, o melhor que se pode dizer é que quem consegue viver aqui, consegue viver em qualquer lugar.
New York, New York! :D
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