segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

lobos do mar

quando formos velhos, lembra-me dos tempos de hoje, lembra-me quando pensávamos que já não éramos tão novos assim. mal sabíamos nós. e o tanto que nos queixávamos de não sermos tão jovens assim, tanto nos queixámos que um dia deixámos de nos queixar e resolvemos, simplesmente, não ser tão jovens assim. e a partir daí, não mais achámos que não éramos tão jovens assim.

foi quando fizemos aquela viagem impossível.
tu compraste o veleiro de um marinheiro mudo. que te apareceu sem mais nem menos no porto ao pé de casa. o veleiro… que nunca saiu da doca seca. nele passámos mares e mares e mares e mares, e desses mares a pele se curou de tanto sal, do teu e do meu. eu fiz as tuas linhas e tu fizeste as minhas. devagar. na ponta dos dedos. até que o mar começou a chegar de mansinho. na beira da praia.

por vida, uma vila pacata.
afinal, era ainda tanto o tempo.
continuei a usar as poções que hoje uso. a camisa. os cabelos compridos que agora trago amarrados. e que deixei de tingir, a teu pedido.

não penses, agora, que estamos velhos. porque nunca não somos tão novos assim.
continuas a sorrir como sorrias, meu muito meu céu.

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