quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Paddock Girl



Um desarranjo logo aos 17 anos. Aquele típico da primeira vez.
Dietas exclusivas de ananás e água fervida. Internamento hospitalar na sequência da óbvia debilidade que lhe causaram.

Os pais deviam saber que isto tudo estava para vir quando, no final de Julho de 1976, regressou de um acampamento, mais a irmã, num tanque do exército. Trazidas pelos militares que, por sorte, também haviam estado no mesmo Gerês que elas. Em tendas muito piores que as delas, que cheiravam a Creme Nívea de lata azul e a Heno de Pravia.

Numa mão, a confirmação da admissão à licenciatura em veterinária. A opção mais que natural para quem albergava tudo quanto é mamífero que lhe passasse à porta. A casa de campo dos pais, morada da família, prestou-se a que chegasse a ter mais de 30 gatos.
Na outra mão, a melhor nota do concurso público para hospedeira de bordo na TAP.

Numa das suas fotografias mais bonitas está fardada, cap incluído, a afagar a Happy. Foto da qual toda a família recebeu cópia com uma dedicatória lamechas qualquer a cargo da minha tia. Com a Happy que perdeu as suas primeiras e únicas crias ainda no ventre, esfacelado pela ventoínha do Renault 5 preto da dona. O Renault sem puxadores nas portas. Tinha apenas uns botões. O que me fascinava. Era o carro da minha prima com nome russo e 14 anos mais velha que eu.

As suas peles continuam a passar as estações quentes num frigorífico, em Paris.

Quantas vezes foi ao Rio apenas para ir comprar um bikini novo.

Apesar de ter feito muitas, carrega um ódio mortal ao tempo. Segue o circuito de MotoGP in loco. Agora sem o filho mais velho que, entretanto, já se senta diariamente num cockpit para trabalhar. Noutro dia contava-me, endiabrada, que ao fim de mais de dez anos a apoiar o Valentino R. havia, finalmente, recebido o livre-trânsito “mais VIP”. Uma pulseira amarela em borracha, com cheiro a chiclet.

Não é o seu primeiro paddock. Lá em casa há um retrato seu, feito a carvão e assinado “Ricardo P.”.

Talvez seja o último.

Ela era e continua a ser a mulher mais bonita que já conheci.

1 comentário: