sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025
Renascer na Praia
domingo, 23 de fevereiro de 2025
A minha nova terra
Os Viajantes não têm de entregar já as suas comissões
Jean-Arthur Rimbau
Iluminações - Uma Ceveja no Inferno, tradução de Mário Cesariny. Assírio & Alvim
sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025
Piratas mortas não contam estórias
Naquela primavera, sentados no cume de um monte, com a areia do deserto na boca e o sol a afundar-se no horizonte, Tagik, o berbere contador de estórias, através dos três ou quatro dentes que lhe restam, cuspiu um vaticínio horrível: chegaria o amor.
Como na morte de Samarcanda, como nos grandes espelhos atrás das costas, como nos pesadelos intermináveis dos mosquitos dos trópicos, foi casualmente encontrar-me no lugar onde estava melhor escondida.
Chegou o amor e tinha os seus olhos.
Por uma vez, experimentei pousar-lhe o sabre nas mãos ao invés de o arrecadar dentro do seu peito.
Vendi a pólvora e troquei o mar por um jardim de magnólias. Perdi há muito os livros da contabilidade. Desinteressa-me o valor do inevitável.
Nunca me pediu nada.
Nunca me perguntou nada.
Aperfeiçoou a manha de sherazaade, mantendo-me presa na primeira estória enquanto me guarda a mão direita.
Não voltei ao deserto. Não posso mais voltar ao deserto.
domingo, 9 de fevereiro de 2025
Ou onda
As Rosas da Piéria
Morta jazeras e de ti não haverá jamais memória
nem saudade no futuro: pois não participaste das rosas
da Piéria, mas invisível também na mansão de Hades
andarás para trás e para a frente no meio dos mortos sombrios.
Ensaio sobre o ar que não respiro
Fui artista de circo.
Fiz equilibrismo no vértice dos diamantes. Mergulhei em plateias de feras lançando-me das faces de topázios. Trepei por lenços de seda aos telhados de uma certa Lisboa. Em noites sem lua pendurada nas árvores do sul. decorei constelações inteiras.
Fui pirata
Naveguei as vagas que ficam para lá da bruma. Rasguei um ou outro peito
Aprendi a amar as noites sem lua.