O anjo pressentira a minha noite, o chão negro de onde brotava a vida, e sabia como isso seria mortal.
E, se eu pudesse gritar, gritaria: porque eu também lhe estendera as minhas mãos - amávamo-nos, amávamo-nos - e eu sabia e eu sabia o ser que amava e por quem era amado: a minha própria noite.
Que se amem, e se apavorem um do outro - disse ele, o que deixara tudo acontecer e agora aparecia a um pórtico superior, lá no alto, junto do mastro vazio.
Temem a loucura um do outro - disse ele - e é isso que se amam.
Depressa, depressa.
Era um crime.
Os anjos não tocam violino.
(...)
In Herberto Helder, Apresentação do Rosto, Porto Editora.
Sem comentários:
Enviar um comentário