quarta-feira, 23 de março de 2022

breve síntese dos dias que não contei

Ainda me impressiona a chuva triste que se cola às costas das mãos e que não se consegue sacudir com um gesto impaciente. 

Ainda me assusta o olhar delator dos loucos quando se cruza com o meu e reage com a efusão de quem encontra um amigo num mercado chinês.

Ainda detesto a nostalgia do pôr-do-sol e das flores que murcham nas jarras e do musgo nas lápides sob a última luz da tarde.

Ainda sonho que sigo um coelho e me perco no subterrâneo surrealista das coisas bonitas e fascinantes onde Alice e a Rainha de Copas são as duas faces do espelho.

Ainda trago no peito a mancha escura da memória dos dias em que não fui feliz todos os dias.

6 comentários:

  1. Ninguém é feliz todos os dias... tenho a certeza que este retorno trouxe alguns sorrisos.

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  2. Cuca!!
    Puxa... que bom ler-te.
    E espero que consigas ser feliz agora. Pelo menos a maior parte do tempo.

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  3. Já nem consigo comentar o meu próprio blogue.

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