O dia nasceu sob o signo do sol. Parecendo que não, é uma variável relevante.
Hoje comprei uma couve e uns tomates no mini mercado da esquina e regressei a casa com eles, dentro de uns sacos transparentes, para fazer o almoço.
Pode haver alguma felicidade nisso de se escolher uns tomates maduros, com rama e tudo, e de os pousar na bancada da cozinha e ficar a pensar que são os tomates ideais para aquilo que queríamos fazer para o almoço.
Aprendi, entretanto, que a felicidade é mais simples e concreta do que poderíamos imaginar. Já não preciso de encontrar a metáfora perfeita num poema. Uns tomates adequados ao prato têm a mesma aptidão para desencadear no meu cérebro o mecanismo da libertação da serotonina. É uma informação útil. Vidas poderiam ter-se salvo se os seus titulares tivessem aprendido a tirar proveito dos pequenos nadas do universo. Aposto que metade dos suicidas nunca desenvolveu o gosto pela culinária, nem percebeu a energia libertadora que existe entre uma faca e os alimentos crus.
Depois li uma coisa no Henrique Bento Fialho e lembrei-me do Joe Dassin e passei parte do final da manhã a ouvi-lo na cozinha.
- E se tu não existisses, pá, porque haveria eu de existir?
Perguntei ao capitão Strut quando regressou a casa e me surpreendeu na cozinha a esfaquear os tomates do mini mercado.
O capitão Strut tem o salutar hábito de nunca responder às minhas perguntas estúpidas. Pegou-me na mão e, em silêncio, dançou comigo o resto da música.
Foi uma boa manhã.
Folgo em saber que, apesar de tudo, se sente tão prosaicamente feliz. Bastando-lhe uns tomates, uma couve, a voz ainda com garra de Joe Dassin e o jeito manso do capitão dessa caravela.
ResponderEliminarAposto que metade dos suicidas nunca desenvolveu o gosto pela culinária, nem percebeu a energia libertadora que existe entre uma faca e os alimentos crus.
ResponderEliminarNa outra metade: Anthony Bourdain. Que saudades de o ver.
Não é seguro que não se tenha suicidado apenas para arruinar a minha teoria.
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