Pensei, durante muito tempo, que a mais justa metáfora do amor estivesse contida na bruxa de José Saramago, a Blimunda do Memorial do Convento que, dotada do poder de ver as entranhas dos outros quando em jejum, ao acordar, para se cegar à mais pura verdade interior do seu amado Baltazar, comia uma pedaço de pão antes de olhar para ele.
Como vai sendo hábito, estava errada. A metáfora superior é a inversa. A de Virgínia Wolf. Negar a quem se ama o acesso ao mais profundo de nós próprios, porque pior do que deixá-lo trancado no exterior é aprisoná-lo, connosco, dentro da nossa mente.
Há muito que a perceção empírica do potencial destrutivo da verdade me fez abandonar a sua defesa incondicional.
No fundo, tudo se resume a essa outra metáfora: A do Coronel Jessup no filme "A Few Good Men".
"You can't handle the truth".