As revisões anuais são um exercício de frustração ao alcance exclusivo daqueles que devem pouco a si próprios. Nessa matéria, sou uma caloteira prestes a apresentar-se à insolvência.
Não terminei a Ilíada. Saí do Inferno de Dante mas vagueio algures pelo purgatório. Não subi ao Empire State Building e nem sequer vou ver o ano morrer do cimo da Torre Eiffel. Não escrevi nenhuma boa história. Não comprei uns louboutin. Não visitei amigos distantes. Não aprendi a fazer bolos. Não deixei uma papoila no jazigo onde guardaram o que restou do meu poeta. Não reencontrei o nascer do sol da minha Ilha. Não fui Alice em nenhum momento. Não captei na objetiva uma imagem que me satisfaça o esforço. Não comi castanhas assadas. Não mudei a vida de ninguém com quem me importe. Não escrevi nenhuma canção. Não dancei sob as luzes de um baile de agosto.
Mas fiz-me Pirata. E tudo o que não fiz é espólio e promessa de um outro ano.
Há sempre o que cabe na outra metade do copo: as palavras que adquirem novos sentidos, alguns sorrisos inesperados, uma ou duas cenas de filmes que recordaremos, determinados parágrafos que permanecem -- o que se consolida, interminavelmente consolida, naquilo a que eufemisticamente chamamos memória.
ResponderEliminarBom ano, Cuca.
Essa memória que afinal é a vida toda :)
EliminarBom ano, Xilre
A idealidade do que não fez intensifica o que realmente viveu e sentiu e o peso da recordação.
ResponderEliminarBeijinho da D.
Beijinho e um excelente ano!
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