segunda-feira, 15 de abril de 2013

À procura da tribo perfeita para me acolher

Estes, por exemplo, têm ar de quem poderia beneficiar enormemente dos meus conhecimentos em filosofia do direito, organização judiciária, mercado de forex, história da arte e informática na óptica do utilizador (desde que seja em ambiente mac). Já me estou a ver a debitar-lhes as teorias dos fins da penas, explicando-lhes que devemos rejeitar qualquer sistema penal assente na ultrapassada ideia da retribuição, porque só a ressocialização é compatível com os princípios da dignidade humana e capaz de garantir a paz social quando o criminoso regressa ao meio social após cumprida a sua dívida para com a sociedade. A seguir, eliminaria um obsoleto sistema judicial assente no senso comum do chefe da tribo para implementar juízos especializados com sistema de recursos obrigatórios, a cargo de pessoas especialmente formadas para esse efeito que, para se distinguirem das outras, até usariam roupas ou pelo menos sapatos (suspeito que teria alguma dificuldade em importar o nosso sistema de impedimentos porque estes devem ser todos da mesma família, mas haveria de se inventar qualquer coisa). Depois desenvolveria a finança através da abertura dos mercados, incentivando investimentos no cross mandioca/feijão com alavancagem de contas. Haveria de lhes contar tudo o que sei sobre Klimt apesar de me parecer que é maior a probabilidade de se identificaram com Gauguin. Nessa altura estariam preparados para uma breve introdução ao desespero de Kierkegaard. Os meios informáticos serviriam apenas para aprenderem que excluir pessoas no facebook ou matá-las produz mais ou menos os mesmos efeitos, requerer muito menos dispêndio de energia e não suja o chão da palhota.
Um ano depois, teriam perdido todo o interesse por atividades ao livre, haveriam de ter percebido que o verdadeiro conceito de poder é muito mais do que o direito de usar a lança maior e escolher primeiro as mulheres da aldeia, estariam familiarizados com a ideia de sucesso social e dispostos a sacrificar as suas vidas para o obterem, encontrariam na arte a única forma de comoção possível e perceberiam naturalmente essa coisa do desespero dos existencialistas.
Sim, eu podia começar por estes. 
Mas a avaliar pelo ar antigo que tem a fotografia, aposto que já alguém teve a mesma ideia e os condenou à miséria humana ainda antes de eu ter decido tornar-me missionária.

3 comentários:

  1. sô dona cuca: atendendo à ilustração parece-me que lhes seria útil, antes de mais, uns conhecimentos médicos [ou um carrinho de mão]

    ResponderEliminar
  2. um carrinho de mão ainda se arranja. conhecimentos médicos, só de psiquiatria.

    ResponderEliminar