Quando a cortina caiu e o teatro
se levantou inteiro para aplaudir os dois bailarinos principais, ocorreu-me que
o bailado ainda vai sendo o ambiente mais seguro para se meter na cabeça que um
quebra-nozes é um príncipe.
No bailado, há sempre uma fada pronta
a comover-se com o erro, a chamar-lhe capacidade de sonhar e a abrir as portas
do maravilhoso reino das neves onde equivocados e equívocos rodopiam felizes ao
som de orquestras.
Mas se Clarinha não vestisse um
tutu, o quebra-nozes teria continuado a ser apenas um quebra-nozes. Não haveria
fada para se comover com tamanha tontaria e, em vez de viajar até ao maravilhoso
mundo das neves, Clarinha teria acordado no meio dos ratos. Onde mais se
precisa de um príncipe e menos de um quebra-nozes.
Depois percebi que a sala estava
ocupada até à última cadeira. E isso, sim, é um sinal de esperança na
humanidade capaz de me comover até às lágrimas.
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