“O staretz diz ao peregrino que se repetirmos constantemente essa oração (ao princípio basta dizê-la só com os lábios), o que acaba por acontecer é que a oração se torna activa. Acontece qualquer coisa ao fim de algum tempo. Não sei o que, mas acontece qualquer coisa, e as palavras sintonizam-se com o batimento do coração dessa pessoa, e então está efectivamente a rezar sem parar. O que tem um efeito místico tremendo em toda a sua visão. Acontece que é precisamente esse o propósito, mais ou menos. Quero dizer que se faz isso para purificar a visão e alcançar um conceito novo do sentido das coisas(…) Mas a coisa, a coisa maravilhosa, é quando se começa a fazer isso nem sequer faz falta que se tenha fé no que se está a fazer. Isto é, embora a pessoa possa sentir-se terrivelmente embaraçada com tudo aquilo, não há problema. O que quero dizer é que ninguém insulta ninguém ou nada. Por outras palavras, ninguém pede a ninguém que acredite no que quer que seja quando se começa. Nem sequer é preciso pensar no que se está a dizer, afirmava o staretz. Ao princípio, a única coisa que tem de se ter é quantidade. Depois, mais à frente, a quantidade transforma-se em qualidade. Pelo seu próprio poder ou coisa do género. Diz que qualquer nome de Deus, seja ele qual for, possui esse poder peculiar e activo, e começa a funcionar logo que é posto em marcha.”
J.D. Salinger, Franny e Zooey
J.D. Salinger, Franny e Zooey
Se a fé se adquire pela repetição ad nauseum de rituais sem sentido porque é que eu não posso legitimamente esperar que a fórmula também funcione quando aplicada ao amor?
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