segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Coisas estranhas acontecem quando se decide ordenar livros



Intrigada com um detalhe da revisitação de “O que diz Molero” (ontem, RTP2), decidi ir à procura do livro para o tentar compreender melhor. Constatei que a minha caótica biblioteca não me permite encontrar coisa nenhuma em tempo útil e decidi começar a arrumá-la. Assim, direitinha, por estilos literários e dentro destes por ordem alfabética.
Foi então que, absolutamente desnorteada, dei comigo a olhar para um livro chamado “Guia Para ficar a saber ainda menos sobre as mulheres” da Isabel Stilwell.
Não é que eu não tenha livros maus. Tenho. Uns por flagrantes erros de casting motivados por títulos presunçosos (caso do assustador “Enquanto esta música durar és só minha” de uma tal Margarida Brum). Outros por mau gosto de ofertantes bem intencionados e outros, ainda, por razões estranhas que demoravam um post a explicar.
Por exemplo, embora tenha conseguido escapar ao Paulo Coelho, sou a infeliz proprietária de três Brian Weiss. Dois oferecidos e um meio roubado, mais uma vez por causa do título e da ironia do momento.
E apesar de até ter um livro chamado “As Diopterias de Elisa” que tenho a certeza que só vinte pessoas conhecerão e dessas só cinco leram, o que é certo é que tenho uma biblioteca controlada em que conheço os fungos que saltam da estante.
Aquele livro deixou-me perturbada. Tinha a certeza de não o ter comprado e sou demasiado sensível para não registar o momento traumático que teria sido rasgar um papel de embrulho e dar de caras com aquilo.
Abri o livro e comecei a observar o desastre, do fim para o princípio. Senti aproximar-se a possibilidade de ter um daqueles flashes em que a pessoa descobre que teve outra vida em que foi assassino da Mossad ou caixa do Pingo Doce, ou coisa assim parecida.
Á medida que olhava para o conteúdo do livro, o mistério adensava-se. Como é que aquela nódoa escapou? Como teria aquilo entrado na minha casa? Oferecido com um jornal? Dentro de uma revista de gaja? Largado na caixa do correio? Com um bilhete anónimo a insultar-me?
Quando, já branca e horrorizada, temendo pelo meu passado, confusa com a minha identidade, cheguei à primeira página, a justificação estava lá escrita, em letra torta de esquerdina, a rir para mim com ar sádico:
Estrelita, vírgula, Lisboa, vírgula, 24 de Novembro de 1999.
Respirei de alívio.
Tenho a certeza que é a isto que se referem com aquela conversa de os amigos também servirem para nos obrigar a pôr em causa.

8 comentários:

  1. Aposto que para além dessa primeira página nenhuma outra foi folheada antes de hoje.
    O mistério da existência dessa coisa é tão grande para mim como o foi para ti(aposto que é resultado daquelas trocas de presentes idiotas que se fazem no Natal nos escritórios).
    Toda a gente sabe que prefiro não ter nada a comprar lixo. Seja de que natureza for (e com esse título, convenhamos...)

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  2. Não sei, não. Cheira-me a instinto consumista na feira do livro. O vendedor da tenda devia ser giro.

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  3. Tem alguma coisa contra as "caixas do Pingo Doce"? São pessoas tão válidas e tão necessárias quanto a doutora!!!

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  4. Caro anónimo:
    Nada contra e até tenho a certeza que muitas serão muito mais válidas do que eu. Encaixava-se bem no texto. É só isso. Um texto.
    (Ah! e também não tenho nada contra assassinos da Mossad).

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  5. Sim, a Cuca seria uma péssima caixa do Pingo Doce.

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  6. Verdade. Sou testemunha ocular de como a Cuca não consegue sequer pagar as suas próprias compras nas caixas self service que alguém teve a infeliz ideia de instalar nos hipermercados.

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  7. Acho que inventam essas coisas para me prejudicar...

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  8. Não aparece nenhum defensor dos assassinos da Mossad? Isto dos sindicatos já não é o que era.

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