O vento levará tudo.
Por ora são as folhas das árvores que ainda esta manhã estavam espalhadas pelo chão; os papéis de rebuçados das crianças; as placas das imobiliárias nos prédios para venda; as roupas que os incautos abandonaram nos estendais; os chapéus dos turistas que ainda se atrevem a sair à rua.
Mas é apenas o primeiro dia.
As gaivotas já batem de encontro aos vidros da minha varanda e as moscas suicidam-se atirando-se de uma nuvem de asas fechadas. Os cães de todas as ruas lançam avisos inúteis.
Tranco as portadas; corro os estores para que nem a luz entre; verifico a provisão de mantimentos; fecho os livros; escondo-me entre as cobertas.
Vem aí o Sudeste.
Os meus dedos dos pés contorcem-se; o olho esquerdo lança-se numa frenética atividade espasmódica; a unha do polegar cresceu cinco milímetros na última hora. Os cabelos contrariam todas as conhecidas leis da gravidade.
Cá dentro, foram os pensamentos que se desalinharam, saíram da formatura e agruparam-se em milícias rebeldes. Partirão ao ritmo do vento e é provável que nunca mais voltem. Não tenho forças para correr atrás deles. Sei que é uma batalha perdida.
Já passei por outros suestes.
Amanhã acordaremos todos loucos.
Isso é que era.
ResponderEliminarParece-me o tipo de afirmação que se pode fazer com uma margem de erro quase insignificante...
ResponderEliminarEu acordei muito sóbrio, lúcido, normal. Aliás, diria mesmo que nem cheguei a acordar.
ResponderEliminarMesmo correndo o risco de ser monótona nos meus comentários, quero dizer que gostei muito deste post. Li-o e reli-o. Como por acaso acontece muito por aqui.
ResponderEliminarQ.E.D.
ResponderEliminarAh pois erat !!! :)
EliminarMas em passando o sudeste, tudo voltará ao normal, ficarão apenas uns resquícios que acabarão por desaparecer, até so próximo... :) isto foi escrito para mim? :)
ResponderEliminarQue coisa deliciosa.
ResponderEliminar