terça-feira, 7 de abril de 2015

Voltou o vento sueste

O vento levará tudo. 
Por ora são as folhas das árvores que ainda esta manhã estavam espalhadas pelo chão; os papéis de rebuçados das crianças; as placas das imobiliárias nos prédios para venda; as roupas que os incautos abandonaram nos estendais; os chapéus dos turistas que ainda se atrevem a sair à rua. 
Mas é apenas o primeiro dia.
As gaivotas já batem de encontro aos vidros da minha varanda e as moscas suicidam-se atirando-se de uma nuvem de asas fechadas. Os cães de todas as ruas lançam avisos inúteis.
Tranco as portadas; corro os estores para que nem a luz entre;  verifico a provisão de mantimentos; fecho os livros; escondo-me entre as cobertas. 
Vem aí o Sudeste. 
Os meus dedos dos pés contorcem-se; o olho esquerdo lança-se numa frenética atividade espasmódica; a unha do polegar cresceu cinco milímetros na última hora. Os cabelos contrariam todas as conhecidas leis da gravidade. 
Cá dentro, foram os pensamentos que se desalinharam, saíram da formatura e agruparam-se em milícias rebeldes. Partirão ao ritmo do vento e é provável que nunca mais voltem. Não tenho forças para correr atrás deles. Sei que é uma batalha perdida.
Já passei por outros suestes.
Amanhã acordaremos todos loucos. 

8 comentários:

  1. Parece-me o tipo de afirmação que se pode fazer com uma margem de erro quase insignificante...

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  2. Eu acordei muito sóbrio, lúcido, normal. Aliás, diria mesmo que nem cheguei a acordar.

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  3. Mesmo correndo o risco de ser monótona nos meus comentários, quero dizer que gostei muito deste post. Li-o e reli-o. Como por acaso acontece muito por aqui.

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  4. Mas em passando o sudeste, tudo voltará ao normal, ficarão apenas uns resquícios que acabarão por desaparecer, até so próximo... :) isto foi escrito para mim? :)

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