sexta-feira, 17 de abril de 2015

Pavese disse-o melhor

Vens sempre do mar 
e do mar tens a voz rouca,
e sempre os olhos secretos,
de água viva entre silvas,
A fronte baixa como
um céu de nuvens baixas.
De cada vez renasces 
como uma coisa antiga 
e selvagem, que o coração 
já sabia e cala.

De cada vez é um rasgão, 
de cada vez é a morte.
Combatemo-nos sempre. 
Quem aceita o choque
tomou o gosto à morte 
e leva-o no sangue.
Como bons inimigos 
que não mais se odeiam
somos uma mesma
voz, uma mesma pena 
e vivemos ofendidos 
sob um céu miserável. 
Entre nós não há a insídia, 
não há coisas inúteis - 
combateremos sempre. 

Combateremos ainda, 
combateremos sempre.
Pois perseguimos o sono
da morte lado a lado,
e a nossa voz é rouca
a fronte baixa e selvagem 
e um céu idêntico.
Fomos feitos para isso.
Se um de nós cede ao choque,
segue uma longa noite
que não é paz nem trégua 
e não é morte verdadeira.
Tu já não existes. Os braços 
agitam-se em vão.

Até que o coração nos trema.
Disseram um dos teus nomes.
A morte recomeça.
Coisa ignota e selvagem
renasceste do mar.

Cesare Pavese, in Trabalhar Cansa 

2 comentários:

  1. Mas se isso é o efeito do combate, a ausência dele também parece ser um... tédio:

    What do they say each new morning
    in Heaven? They would
    weary of one always
    singing how green the
    green trees are in
    Paradise.


    Jack Gilbert

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    Respostas
    1. Sem dúvida.
      Mas o paraíso é uma escolha. O combate é uma imposição. É mais puro, o último.

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