Já estava sentada naquela sala há mais de quatro horas seguidas a ouvir mentiras quando me lembrei de um verso de Pavese:
Ao menos pudéssemos partir,
rebentar de fome em liberdade, dizer não
a uma vida que utiliza o amor e a piedade,
a família, o bocado de terra, para nos atar as mãos.
E então, enquanto fingia ouvir as pessoas e escrevia o verso entre as linhas de uma qualquer estória de maldade humana, imaginei que me levantava da sala em absoluto silêncio, sem olhar para nenhum deles; imaginei deixá-los sozinhos, sem interlocutor para as suas mentiras; não me dar sequer ao trabalho de fechar a porta atrás de mim; desaparecer por um dos corredores labirínticos; imaginei sair para o sol, em liberdade.
E durante aqueles sessenta segundos, antes de entregar as mãos às algemas e devolver a atenção à sala, fui profunda e genuinamente feliz.
Às vezes também arranjo momentos desses quando me atam as mãos, Cuca. Mas sem versos (com certeza porque vão para ti). :-)
ResponderEliminarÉ a liberdade restante, Susana :)
Eliminarando com vontade de de fazer um jogo de espelhos com uma destas maravilhas que por aqui se escrevem, sô dôna Pirata. posso?
ResponderEliminarBe my guest, dom Noodles
EliminarComo entendo bem a vontade de ter poderes, ou somente de poder... Queria tanto, tantas vezes poder...
ResponderEliminarSi <3 Cuca
Essa vontade já é ela própria um poder :)
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