"1. Há homens cuja arte é tão extensa que não cabe neles. Só depois de um celeiro rectangular transformado em atelier, Pollock encontrou espaço – fora de si – para criar em definitivo. Fora de si, para ele mesmo ficar dentro.
2. Um simples cavalete não lhe servia. A técnica do gotejamento podia ser inspirada no jogo dos dardos. Ele lançando para a tela concentrado numa tripla de vintes. Descobriu-se sem pontaria. É dos pinceis, queixava-se. Já com as trinchas acertava, mas pintavam demasiado.
3. No fundo pintar era-lhe um contínuo de velocidade. Descia o vale ébrio na sua bicicleta ferrugenta, saltava dela como se de um cavalo se tratasse, já de cigarro aceso ao canto da boca, descalçava-se e entrava literalmente para a tela. Lá dentro, acertava sempre. É a vantagem de se querer atingir o que já nos pertence.
4. Bebia demasiado. Urinava mais. Grande Pollock. Não precisaste pensar muito.
5. E os quadros sucediam-se. Brotavam do chão como ervas daninhas de variados pantones, ou muitos salpicos de uma chuva coada em paletas. A fugires do surrealismo, da mulher-lua, do círculo. Todo tu incompleto em fragmentos informes, sem início nem fim.
6. Onde estava a tua bicicleta quando bebeste o último trago?
7. O carro a dar-te finalmente o caos do existencialismo, em estrondo, as aves assustadas num céu limpo. A água de um radiador a escorrer pelo asfalto. Os óleos a tingirem o alcatrão. Que teimosia em estares sempre dentro das tuas obras." (Fernando Dinis)
Concordo, o amor são elípticas em movimento, num fundo quase sempre escuro.
ResponderEliminarExcelente combinação com o anterior.
ResponderEliminar"1.
ResponderEliminarHá homens cuja arte é tão extensa que não cabe neles. Só depois de um celeiro rectangular transformado em atelier, Pollock encontrou espaço – fora de si – para criar em definitivo.
Fora de si, para ele mesmo ficar dentro.
2.
Um simples cavalete não lhe servia. A técnica do gotejamento podia ser inspirada no jogo dos dardos. Ele lançando para a tela concentrado numa tripla de vintes. Descobriu-se sem pontaria. É dos pinceis, queixava-se. Já com as trinchas acertava, mas pintavam demasiado.
3.
No fundo pintar era-lhe um contínuo de velocidade. Descia o vale ébrio na sua bicicleta ferrugenta, saltava dela como se de um cavalo se tratasse, já de cigarro aceso ao canto da boca, descalçava-se e entrava literalmente para a tela. Lá dentro, acertava sempre. É a vantagem de se querer atingir o que já nos pertence.
4.
Bebia demasiado. Urinava mais. Grande Pollock. Não precisaste pensar muito.
5.
E os quadros sucediam-se. Brotavam do chão como ervas daninhas de variados pantones, ou muitos salpicos de uma chuva coada em paletas. A fugires do surrealismo, da mulher-lua, do círculo. Todo tu incompleto em fragmentos informes, sem início nem fim.
6.
Onde estava a tua bicicleta quando bebeste o último trago?
7.
O carro a dar-te finalmente o caos do existencialismo, em estrondo, as aves assustadas num céu limpo. A água de um radiador a escorrer pelo asfalto. Os óleos a tingirem o alcatrão. Que teimosia em estares sempre dentro das tuas obras." (Fernando Dinis)