segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

Starry Night

Deixei de viver dentro de um livro de poemas, 
algures entre a segunda e a terceira dança. 
Era difícil, 
no espaço entre dois versos, 
unir as mãos e dançar contigo 
todos os acordes do infinito.
Mas quando se aprende a viver
dentro de um livro de poemas,
Amor,
não se retorna à claustrofobia dos espaços.
Sou a habitante discreta de todas as caixas de magia.
Espreito do interior dos espelhos desta casa
E adormeço dentro dos quadros. 
Às vezes navego no veleiro pendurado sobre o piano 
E outras, muitas, quase todas, 
Amanheço no crepúsculo do Van Gogh
que resgatámos de uma noite de Nova Iorque. 
Ancorada nos teus pés, 
deixei de deambular, sonâmbula, 
sob a lua das praias geladas 
e de me pendurar, pelas sombras,
nos mais escuros telhados de lisboa. 
E são teus os dias, as  noites,
Todos os crepúsculos e todas as albas.
Mas quando não souberes de mim,
Amor, 
procura-me nas coisas inanimadas,
para as quais ainda me arrasta
esta estranha sede de magia.




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