sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Resgates

Não sei se foi do vento a ameaçar as janelas rasgadas nas paredes da sala grande; da nuvem de cor púrpura no topo da árvore onde mora a cegonha; do resto de mar por trás da cabeça dos outros ocupantes da sala; de um familiar gesto de mãos, como quem desenha, numa pauta suspensa no ar, a imaginária nota musical.
Não sei se a fuga durou horas, minutos ou segundos. 
Recuperei-me já para lá do horizonte, onde se interrompe o mar. Arranquei a fronte desse espaço que fica entre entre a clavícula e o teu pescoço, alívio de uma alma insone. Ainda encontrei uns segundos de verdade no fundo do teu olhar. 
Mas depois restituí-me à sala. O vento a querer entrar pelas janelas. As pessoas de costas para a nuvem púrpura. Nenhum gesto que seja teu. Olhares fixados no vazio da minha expressão.
Devolvi-me onde não pertenço.

1 comentário: