domingo, 8 de fevereiro de 2015

comunicações intergaláticas

Um dia, como hoje, também fazias anos e fomos ao teatro. Era Shakespeare. Fizeram-te um desconto no bilhete. Não me lembro se gostaste da peça mas lembro-me de te ter oferecido um relógio com dois mecanismos, e de ter dito que o da esquerda poderia ser o teu tempo e o da direita o tempo dos outros e, quem sabe, talvez num qualquer final de tarde, pudesses querer acertar os dois tempos.
Nunca te vi com o relógio, o que não é de estranhar porque seria o mesmo que carregares no pulso uma acusação cruel. Sem o perceber, ofereci-te uma pulseira eletrónica para te aprisionar ao meu tempo.
Depois disso o mundo girou e ficámos todos de cabeças voltadas para baixo embora com os cabelos milagrosamente colocados no seu sítio.  
Este ano fiz a idade que tu te recusaste a fazer e do topo do Empire State Building lamentei-me por não estares lá para me devolveres esse relógio, com dois mecanismos, para me dizeres que o da esquerda poderia ser o meu tempo e da direita o tempo dos outros e, quem sabe, talvez num qualquer final de tarde, pudesse querer acertar os dois tempos.
Usaria com gosto uma pulseira eletrónica que me aprisionasse ao tempo dos outros.



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