Não hei de morrer sem ver-te aproximar à distância.
Salgueiro balançado ao vento norte,
folhas soltas por cima da cabeça,
nuvem vertical a encharcar-me os ossos.
sentir-te os olhos nas pontas dos dedos,
beber-te os contornos do sorriso torcido.
E engasgar-me de camélias.
E não hei de morrer sem que antes me mates
com a mesma adaga de coral que enterrei na praia
na noite em que a maré não te devolveu e a lua disse:
- dois miseráveis assassinos.
Matámos os sentidos, a música, os versos.
Escondemos no rio o corpo das memórias.
Vestimos as nossas melhores roupas de domingo
para penhorarmos a alma aos balcões dos agiotas;
Fizemos promessas a deuses pagãos
que cumprimos no escrúpulo dos joelhos no asfalto.
- dois miseráveis assassinos.
Disse a lua na manhã em que a maré não me levou.
Não hei de morrer sem ver-te,
não hás de morrer sem que antes me renasças.
I will speak daggers to her but use none. diria Hamlet.
ResponderEliminarAs palavras são adagas de coral que se enterram na praia. E quando o coral se transmuta em areia, fecha-se o ciclo, e renascem em versos belos, como estes.
As adagas de coral, sobretudo em forma de palavras são perigosíssimas. Sabe-o que já se cortou no coral.
EliminarBoa fim de semana, Xilre.
* quem
EliminarBrilhantismo em palavras.
ResponderEliminarNe me quitte pas, Il faut oublier. diria Brel.
ResponderEliminarA escrita não é esfregar as mãos na profundidade do colo, mas escreve-se assim.
Oublier? Sim, felizmente.