quarta-feira, 13 de maio de 2015

Da alienação

 Às vezes, nestas horas em que a noite cai assim devagarinho, encosto-me à varanda do convés deste navio, vejo o mar lá em baixo, à minha frente e ao meu lado, ouço o barulho do vento de encontro à bandeira presa no mastro e penso como é bom ser Pirata, viver aqui neste navio rodeada de delinquentes, não ter outra hora que não a do coração, da coragem e da oportunidade do saque, não ter de me levantar amanhã para um dia igual e, sobretudo, não estar sentada numa sala a assistir ao serviço noticiário de uma sociedade doente, em que na última meia hora se filosofou sobre fotografias macabras nos maços de tabaco e o sobre o acordo ortográfico. 

4 comentários:

  1. «Sem a loucura que é o homem
    Mais que a besta sadia,
    Cadáver adiado que procria?»

    FP

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    1. Cadáver adiado que procria, também poderia ter sido escrito pelo Pavese.

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  2. Não tens portanto um convés dado ao lazer, nem sequer um Salão de Festas, onde sorrisos regados a escorbuto se deliciam com mais uma tragédia em Salvaterra de Magos ou coisa que o valha.

    É pena, há quem diga que a desgraça alheia faz bem às tropas.

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    1. Temos um salão de festas onde desgraçamos os nossos prisioneiros para enganar o tédio.

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