domingo, 31 de dezembro de 2017
sexta-feira, 29 de dezembro de 2017
Cartografia do coração
Pode viver-se em paz com um coração homogeneamente escuro. Mas quando nele entra a luz, formam-se poças de sombra negra que alastram e comprimem consoante o posicionamento dos astros. É nessas lagoas de negrume que se afoga qualquer princípio de tranquilidade.
sábado, 23 de dezembro de 2017
terça-feira, 19 de dezembro de 2017
quinta-feira, 14 de dezembro de 2017
Da quietude
Não o percebi imediatamente. Quando o cosmos salta da esfera armilar faz-se acompanhar por um ruído impossível de ignorar. Mas quando os astros o devolvem ao seu lugar, há o rumor da folhagem a recolocar-se na direção da luz, que é uma forma extrema de silêncio, e nada mais.
Um final de tarde em que nenhum facto relevante ocorreu, o corpo e a mente reuniram-se, por fim, no mesmo espaço físico. Então, o tempo verbal presente preencheu todo o cenário, as luzes da cidade reconciliaram-se com o desenho das constelações e eu apreendi a noção da quietude:
É o mais perfeito sinónimo da felicidade.
É o mais perfeito sinónimo da felicidade.
segunda-feira, 11 de dezembro de 2017
Bolerinho
Vem miúdo,
desce a rua à esquerda do outono
no passo firme da árvore da vida
e enlaça-me nesse instante do sono
em que a dois corações uma batida.
Dança comigo de pés torcidos
diz-me a essência dos dias
dá-me a violência dos tecidos
conta-me das estórias vadias.
Vem miúdo,
sobe a rua à direita da primavera
lava-me dos cabelos todo o sal
manda fechar as portas da guerra
desenha-me um mundo sem mal.
Dança comigo de pés unidos
alimenta-me a baclava
faz todos os espaços banidos
adormece uma rosa brava.
E, miúdo,
Corta do trapézio as cordas.
Ata-as às asas do vento norte,
que, dizem,
– nunca
voar
foi
má-sorte.
E, miúdo,
Corta do trapézio as cordas.
Ata-as às asas do vento norte,
que, dizem,
– nunca
voar
foi
má-sorte.
Calar o medo
Quis calar o medo com um gesto firme. Dizer-lhe que regressasse ao chão de onde veio. Pisá-lo com as solas de seda dos sapatos de bailarina. Quis levantar o pescoço à altura do arco-íris; habitá-lo por dentro e estender os braços até ao vermelho.
O medo é a neblina que sobe até aos joelhos e submerge o caminho. Tão denso que não nos deixa ver as poças por entre os pés.
Não sei quanto tempo fiquei ali, emudecida, fascinada pelos desenhos que o medo forma quando se levanta do chão.
Ou sei. O tempo que demoram as raízes a chegar ao outro extremo do mundo.
O medo é a neblina que sobe até aos joelhos e submerge o caminho. Tão denso que não nos deixa ver as poças por entre os pés.
Não sei quanto tempo fiquei ali, emudecida, fascinada pelos desenhos que o medo forma quando se levanta do chão.
Ou sei. O tempo que demoram as raízes a chegar ao outro extremo do mundo.
quarta-feira, 6 de dezembro de 2017
segunda-feira, 4 de dezembro de 2017
Duas luas
A segunda lua nasceu do asfalto e esperou-me, emboscada, na curva da estrada. Imensa; definitiva; resiliente como as árvores que nascem das sementes caídas dos bicos das aves e fazem o seu caminho nos beirais das casas.
Foi uma lua rosa.
Foi uma lua rosa.
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