Sentávamo-nos à mesa e estendíamos sobre o mundo um cruel meridiano que separava os fracos dos fortes. O destino era um berlinde de vidro com muitas cores no centro que fazíamos girar na palma da mão direita. Lá em baixo, a terra esperava-nos imóvel, muda, domesticada. Sabíamos muitas coisas. Nenhuma que nos houvesse sido ensinada pelo coração, esse órgão supérfluo entre deuses banidos.
Só havia um tempo e uma razão e estavam fundidos nas nossas certezas.
Reinávamos sob o sol e tudo colhemos como nosso.
Depois fez-se o entardecer, com os seus crepúsculos de cansaço. O jardim fechado, o balouço vazio, um brinquedo partido. A sombra baça do prenúncio de nada num canto do pátio, a espraiar-se. Enquanto a terra se desvanecia ao ritmo da vertigem, as certezas arrefeciam.
E foi assim que entrámos na noite, com o destino a deslizar por entre os dedos da mão e a perder-se debaixo dos nossos pés. Uma distância intransponível. O horizonte sem terra. A ignorância do coração a tornar-nos fracos até ao sono. Deuses de coroa de lata ou, pior ainda, apenas gente sem destino.