segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Fraternidade

Esta manhã, quando estava sentada à mesa do pequeno almoço a beber sumo de laranja, Gualtiero, o Italiano, que agora está convertido numa espécie de secretário pessoal e assim permanecerá até arranjar um mainato mais apropriado, veio avisar-me que hoje é o aniversário da minha irmã.
Pedi imediatamente o meu papel de carta roubado do Ritz e comecei por escrever a seguinte mensagem:

Querida irmã,

Comprovando o axioma de Tolstoi na abertura das páginas de Karenin, somos iguais a todas as outras famílias. Nunca agradecemos a normalidade porque a concebemos como um direito natural. Mas é a fonte do nosso mais oculto poder. Aquilo a tu chamas o poder do sangue. Aquilo a que eu chamo a rede. O factor invisível subjacente a todas as equações de risco. A estrutura de que são feitas as asas. A consistência do chão que suporta os passos. A mão que embala o berço. O gene do amor partilhado no ADN. 

Era uma carta sincera. Mas entretanto fui interrompida pelo bárbaro cozinheiro Viking que, como é seu hábito, plantou-se atrás de mim com a cabeça encostada ao meu pescoço e, dispensando os níveis mínimos de descrição, começou a soletrar a minha mensagem enquanto ia tingindo de perdigotos o fino papel do Ritz.

Quando finalmente terminou, olhou para mim com um ar seriamente preocupado e perguntou-me:

- Què?? Precisas dum rim????

Perante isto, achei mais conveniente limitar-me a um SMS com a palavra parabéns seguida por cinco ou seis pontos de exclamação...



4 comentários:

  1. Ou um terço do fígado, quem sabe, pela ingestão de sumo de laranja às litradas... o Andhrímnir pode ser bronco, mas de rins percebe ele de cor e salteado. :)
    Curiosamente, quem me lembra de todos os aniversários, é a minha mãe... :) :) :)

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  2. Tenho pena de não ter recebido a carta mas foram os melhores pontos de exclamação que recebi, alegraram o meu dia e encheram-me o coração. Quanto a vísceras, por uma módica quantia, estou disponível para um rim. Se o tema for fígado, receio não conseguir garantir a qualidade pretendida para o produto final.

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