domingo, 7 de junho de 2015

Protesto Formal

Querido Xilre,

Sendo a Rosa, de Rodrigo Leão, uma das minhas músicas preferidas, com uma letra que, apesar de não ser de Rodrigo Leão considero ser de uma simplicidade magnífica, venho por este meio exercer o meu protesto formal contra essa sua última excentricidade. 

Ouça-se isto:


Agora leia-se isto:

"O casamento é um lugar comum. Tentei habitá-lo como se habita uma casa: no começo com aventura, com adrenalina, com a necessidade de fazer de cada espaço um espaço de valer a pena: um espaço com prazer dentro. Mas depois a casa perde espaço: há cada vez mais móveis, há cada vez mais espaço ocupado e cada vez menos espaço por ocupar. Mas depois a casa perde-se espaço. E o espaço que sobra é um espaço pequeno, diminuto, asfixiante. E o espaço ocupado é o que já foi, o que não consegues deixar de ver nele: o que um dia foi espaço livre e que agora é apenas um espaço ocupado. Só o espaço livre por conquistar me ocupa verdadeiramente. É a tarefa de ocupar, de ir aos poucos ocupando, conquistando, colonizando, fazendo meu o que me fascina. Não é, nunca é, o próprio espaço ocupado, e a forma como é ocupado, que me faz querer ocupá-lo. O caminho é o único fim possível. O meio é o único meio possível."

Excerto do livro Ou é Tudo Ou Não Vale Nada, de Pedro Chagas Freitas, retirado do site oficial do próprio. 

Não é preciso ocupar mais espaço, pois não?


P.s. Não deixe que o número de visualizações no youtube ou as vendas da música o confundam quanto ao conceito de cultura de massas. A explicação é simples: o primeiro é um artista mundial, com consumidores espalhados pelo globo. O segundo, nem as perspetivas mais pessimistas sobre a evolução dos gostos literários permitem acreditar que algum dia o venha a ser.
Ps1 Já nem falo sobre isso de se ocupar uma casa com adrenalina (?) mas o que é que quer dizer a última frase?

15 comentários:

  1. Concordo com o caro Xilre, apesar de não ter livro de reclamações.
    O primeiro, pelas citações, tenho o prazer de desconhecer.
    O segundo sempre me pareceu terrivelmente sobrevalorizado.
    Mas que saberei eu, que prefiro um Popper ou um Hofstadter?
    Abraço!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Popper a Kuhn? Hmmm, acho que estamos do mesmo lado, também nisto. Quanto a Hofstadter, do trio, o meu preferido é, sem dúvida, Bach.

      Eliminar
    2. Caro Quiescente,
      Suspeito que nem Xilre pode concordar com Xilre.

      Eliminar
    3. Xilre,
      Acabo de ver que, desta vez, para se defender, ofende nada menos que o tango.
      Não há limites para a sua barbárie.
      :)

      Eliminar
    4. I am a stange loop também tem os seus méritos.

      O caro Xilre tem razão cara Cuca. Somos cada vez menos exigentes com a Cultura, e com o que quer que seja...

      Também leio literatura trash, idem na música, descomprime o cérebro pela salutar regressão na exigência.

      Mas há que compreender que existe uma diferença entre ambas as coisas.

      Eliminar
    5. Não quero passar por Snob. Eu até defendo as vantagens da literatura light. Mas é exatamente como diz: há que não perder a noção das diferenças.

      Eliminar
  2. ah, a minha confusão...
    o primeiro é o segundo e o segundo é o primeiro

    ResponderEliminar
  3. A Cuca e o Xilre são o casal mais interessante da blogosfera. É bonito ler o vosso amor também pelas palavras.

    ResponderEliminar
  4. Pirata, Pedro Chagas Freitas vê nesse trecho o casamento como um entretém egoísta. Nada poderia estar mais de acordo com esse trecho do que os tempos que correm, em que dois seres ocupam o ar entre eles quase sem se olharem e apoiados em andarilhos de alegrias mornas. E mais, ainda admite por fim que os meios que utiliza de ocupar espaço são os únicos possível, no egocentrismo em que gira o seu mundo.

    É só mais uma forma de escrever os males do mundo, de uma geração perdida entre demasiada tralha. Nunca fomos tão populares como hoje em dia na era das redes, até os casamentos são populares.

    Bom gosto é um rinoceronte-branco, há por aí 4 ou 5.

    Bom dia!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Acho que ganhávamos todos se p PCF convidasse o caríssimo anónimo colaborar com ele na escrita dos livros :)

      Eliminar
    2. Eu nem sequer conheço as "obras" do senhor. Tenho pouco polimento, Pirata.

      Eliminar
  5. "estatuto de ícone de massas também" é um tratado.

    pcf e livro não combinam. pcf é sigla para marketeer, com um percurso tão hilariante quanto, aparentemente, bem sucedido. vale a pena a leitura (aliás, é a única coisa dele que vale a pena ler):

    http://www.sabado.pt/cultura_gps/livros/detalhe/perfil_do_homem_que_nao_falhou.html

    sobre a tragédia de muitos o verem como escritor, isso sim, é algo com uma dimensão verdadeiramente literária e a merecer relato. falta-nos saramago para isso, que era tão bom na invenção desses mundos tolos.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Li numa entrevista que se refere aos seus livros com a expressão "obras"...
      De facto daria um excelente livro, essa hostória.

      Eliminar
  6. E, Xilre, que excelente vídeo esse do Borges. :)

    ResponderEliminar
  7. Cara Cuca, a Pirata,
    Continuo sem saber o que quer dizer a última frase. Na verdade, tenho dificuldade em compreender o sentido do parágrafo. E agora, temo nunca o descobrir.
    Boa noite,
    Outro Ente.

    ResponderEliminar