domingo, 14 de junho de 2015

Mar chão

Enquanto a música durou 
desvaneceram-se o mundo,
esta praia, as paredes de casa e as coisas.
Ficámos pendurados numa das antenas do tempo, 
sintonizados num dia tão antigo que se imagens 
tivessem sido registadas já a celulose as teria roído.  

Enquanto a música durou 
calaram-se as vozes, 
estes pássaros, os carros e as harpias.
Ficámos submersos no silêncio do fundo do mar, 
onde uma baleia que já inexiste ainda trilhava 
a corrente que nos abraçou os ombros.

Enquanto a música durou 
esquecemos mil dias de esquecimento, 
outros tantos rostos, o dobro das mãos e 
ainda o mapa inacabado da reconquista das fronteiras.

O presente fez-se o pretérito futuro 
das certezas de eternidade.
Perdida no tempo
primeiro centésimo de segundo,
a contar do último acorde. 





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