- Almeja à ascese. Começa por eliminar os bens materiais supérfluos. Depois torna-te vegetariano e abstémio. Dá o passo final e não faças nada que não passe no crivo do utilitarismo;
- Nunca desistas de coisa alguma. Segue o exemplo de Ahab que perseguiu a baleia branca até à morte. A dele, claro;
- Rodeia-te de pessoas negativas. Quando te faltar uma angústia própria podes sempre adquirir vinte ou trinta emprestadas. Outros ascetas são um sucedâneo a considerar em caso de indisponibilidade momentânea de gente negativa;
- Leva-te a sério. Ter sempre presente a importância da tua pessoa no mundo em geral e na tua aldeia em particular é garantia de uma dose de acrescida conflituosidade indispensável a uma vida verdadeiramente infeliz;
- Parte do princípio que os outros estão todos errados e és tu o único que está certo. Tenta mudá-los. A história regista três ou quatro visionários a cada século. Pode bem ser o teu caso;
- Desenvolve várias fobias e acarinha-as. Poucas coisas terão a capacidade de te tirar tanta liberdade como um comportamento multi-fóbico;
- Lê Cesare Pavese todos os dias. (Não os poemas, que esses são bonitos e logo fúteis. Ver segunda regra). Se isso não te deprimir e fores minimamente letrado, lê Paulo Coelho;
- Torna-te católico para mais facilmente resistires à tentação do suicídio e prolongares a agonia;
- Partilha a tua vida miserável com alguém que não ames. Acompanhado, é mais difícil desviares-te do trilho da tragédia;
- Comprem um apartamento nos subúrbios que vos custe setenta e cinco por cento dos vossos salários;
- Conforta-te com a regra número um. Estás a cumprir a teu plano.
Passo, obrigada! ;)
ResponderEliminarBoa noite, Cuca.
Ainda bem, Maria :)
EliminarAbsolutamente lindo, Pirata! Repare que as tantas pessoas terão lido os conselhos infelizes como as que leram os felizes, mas nem um pio. Shhh...
ResponderEliminarMas é tão mais fácil comentar com meia dúzia de felicidades (dessas de enfeitar) do que mostrar a pele. Como diria alguém "Só sou verdadeiramente eu quando estou infeliz".
Água morna, só para tomar banho.
Se lhe dessem a escolher, preferia uma felicidade oca ou uma infelicidade densa?
Eu escolho sempre a verdade. Por mais feia que ela seja. Sou viciada na verdade.
EliminarA surpreendente verdade, onde o bem traz o mal maior e o mal traz um bem insuspeito. Que destino este onde os acasos são tão mal compreendidos.
EliminarExcelente guia, para encontrar o caminho da felicidade, bastando, para tanto, seguir em contra-mão.
ResponderEliminar:)
Magnífico, como sempre, Cuca.
Não sei se se encontra a felicidade fazendo o caminho inverso, mas suspeito que se evita a tragédia.
EliminarObrigada, Linda Porca.
O que será mais fácil, atingir a felicidade ou a infelicidade? Se escolhemos a felicidade, supondo que é mais difícil, estaremos na calha da infelicidade, segundo o ponto um... e agora o meu raciocínio já deixou de carburar, perdi-me algures no início de um pensamento qualquer , mas acho que a conclusão que pretendia apresentar era sobre paradoxos e assim.
ResponderEliminarAgora que fala nisso, ficou um paradoxo muito jeitoso. Infelizmente - e bem me apetecia dizer o contrário, de tão jeitoso que ficou isso do paradoxo - foi um feliz incidente. (Lá está, as coisas que se obtêm por acaso)
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