Não há nenhuma poesia neste céu raso que nos pesa sobre os ossos e consome o ar. O cinzento solidificou-se dentro da medula e ficou trancado em nós. Ainda não não nos chegou aos olhos. Limita-se a circular por entre as veias. É preciso libertá-lo.
Há três dias que espero sentada na varanda. Espero um raio que desencadeie a catarse e desfaça o céu. Espero a chuva. Espero o alívio que fica nas pedras depois da hecatombe. Espero a morte ou a vida. O que quer que chegue primeiro à mesa dos despojos da tempestade que se atrasa.
Vi este céu noutra dimensão da mesma eternidade a muitos quilómetros de distância. Sei que ao quarto dia os gritos das gaivotas nos rasgam as gargantas.
Estendo os pés descalços e espero que a chuva os venha lavar.
Oh Pirata, não procure o rebuliço como prenúncio da tempestade. É um segundo apenas, que parece durar vidas, de silêncio absoluto e correntes ascendentes. É só aí que ela desaba, depois de nos ter sussurrado encantos tais.
ResponderEliminarTambém espero por ela para lavar a alma.
A tempestade não veio. Mas as nuvens baixas dissiparam-se.
Eliminar