sexta-feira, 26 de junho de 2015

Penélope

Vim de longe, dos dias em que os homens ainda não tinham sido expulsos da mesa dos deuses e as sortes se compravam no altar do sacrifício ao preço de duas vestais por cada batalha ganha. Atravessei muitas noites até chegar a esta praia. Sem outra rosa na bússola que não o seu norte.
Mas junto a este mar, sonhou-me o destino de Penélope.
Agora sobra-me apenas um resto de fio no novelo; os passos alcatifados pela extensão da tecelagem com que fui iludindo os dias; a vaga memória de uma outra noite de junho.
E o Odisseu (que não sonhou o mesmo sonho) por mais que lho pedisse, não poderia nunca reconhecer a oliveira sobre a qual, do outro lado do tempo, fundou um dia o nosso lar. 

4 comentários:

  1. Reza a lenda que Penélope nunca desistiu, porfiou fiapo a fiapo .... valeu a pena a espera. As esperas são sempre benignas e compensadoras. Valem-nos regressos ou partidas. Regressos do passado ao futuro ou partidas do passado para o futuro. Depende da vontade.

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    1. Discordo de si. Por experiência e vivência as esperas não são sempre benignas e muito menos compensadoras. São uma horrível chatice recheada do mais puro tédio, na maioria das vezes, claro.

      E o destino (assumindo aqui para efeitos de coerência para com o texto, que existe) não se esforça por recompensar, seja Penélope ou quem nos valha.

      Os sonhos que sonhamos em conjunto levam os olhos abertos.

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    2. "Esperar é ainda uma ocupação. Terrível é não ter nada que esperar."
      C.P.

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  2. Esperar só é bom quando se espera o que um dia chegará.

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