Todas as cidades deveriam ter um cemitério de amores perdidos. Uma aliança entre a geografia e a desilusão. Comprávamos amorosas lápides de mármore branco que, em ocasionais mas sentidas visitas, decoraríamos com coroas fúnebres de violetas ou margaridas.
E um nome inscrito em letras douradas, ali, entre milhares de outros nomes, sob o sol e sob a chuva, a desvanecer-se ao ritmo do nosso esquecimento.
Como seria terapêutico, ter um depósito de amores perdidos. Um sítio onde os deixar, quando já não nos trazem qualquer préstimo e nem sequer cabem na organização doméstica.
Creio que tal possibilidade seria absolutamente terrível. Diria JLB a propósito de Funes «Pensé que cada una de mis palabras (que cada uno de mis gestos) perduraría en su implacable memoria.» Os amores, como as palavras e os gestos, têm direito a escapar à implacabilidade da memória -- ou seja, ao privilégio, ao sossego, do esquecimento.
ResponderEliminarOra... É tudo uma questão de organização. Esqueceríamos mais rapidamente se tivéssemos onde os deixar...
EliminarSe a minha experiência contar posso acrescentar que escrever livros é o equivalente a um cemitério de amores perdidos. é terapêutico escrever contos, imprimi-los na loja de cópias mais próxima, trazê-los para casa, deixá-los a ganhar pó até que, um dia mais tarde, uma alusão, uma memória, um sentimento que nos transmitem nos faz voltar a esse cemitério da memória e podemos então verificar quem antes fômos, quem amámos, quem nos amou, quem machucámos, como evoluímos, como nos safamos no dia-a-dia, etc
ResponderEliminarCerto. Mas era muito mais prático comprar uma lápide num local adequado ao efeito e deixá-los para lá. Dissolvê-los em contos - apesar do aspeto sempre positivo que é a reciclagem - é um processo muito penoso!
EliminarAmiga Cuca, não abandones os teus mortos, não os deixes para lá, se o fizeres é uma parte de ti que estás a desprezar.
EliminarHá partes de mim que não merecem mais que o meu profundo desprezo.
EliminarVendo a coisa pelo teu lado, só vejo um problema: os mortos desprezados tornam-se fantasmas, o que bem visto também pode ser poético: ter uma galeria de fantasmas ao dispor :)
EliminarOra aqui tem um negócio com potencial,
ResponderEliminarSe precisar de um sócio, ...
Estava a pensar assim numa coisa classe B+ e A. Espaço com zona lounge e caixas de alumínio escovado, na dimensão dos cofres mais pequenos dos bancos onde o cliente pode depositar os resíduos materiais do amor perdido (vg. Palermices sem valor material). Lápide de mármore italiano e tinta que se vá com o tempo, para manter aquela coisa da esperança. Podemos vender epitáfios mediante um fee extra. Anuidade mínima de três anos e com desconto para o segundo amor perdido. Pode partilhar a caixa com o primeiro ... "Assim como assim" é tudo a mesma coisa.
EliminarEu tenho outra visão. Caixas transparentes com o amor perdido lá dentro, que se vão afundando num solo pantanoso, também de areia transparente, de forma a podermos certificar-nos de que a cada a dia a caixa está mais funda. Um sistema anti-retorno encarrega-se de que o percurso não possa ser invertido. Há requiens a tocar em loop e em batida dos Buraka Som Sistema. Por um valor adicional, uma app dá-nos em tempo real os gritos lancinantes do amor perdido, cada vez mais fraquinhos.
Eliminar(elimine lá um dos meus comentários lá de cima, já me basta estar sempre o mesmo post, não vele am pensa estar sempre a escrever também o mesmo comentário)
Eliminar(concomitantemente terá que apagar este comentário também...)
Céus, essa versão Hi-tech é claramente vencedora! Quero!!!! Quero muito!!!!
Eliminar(É claramente uma gestão futurista das emoções. Já nem consigo imaginar o mundo sem luxuoso cemitério de amores perdidos)
Fiquei tão iluminada que até disse claramente duas vezes seguidas...
EliminarPodemos fazer uma parceria com a Bang & Ofulsen.
EliminarE então, temos sociedade? A Cuca entra com o capital e assegura as formalidades, eu entro com a genialidade?
EliminarOuvi dizer que sou herdeira de uns pinhais. Isso é o tipo de coisa que se pode instalar num pinhal. Pinhais finíssimos, daqueles com nevoeiro nostálgico ...
EliminarEstava aqui a pensar naquelas pessoas que são verdadeiros destruidores de corações, quantitativamente falando - como é que é? Têm várias lápides em seu nome? (Isto pressupondo que terão destruído vários corações na mesma cidade, de forma algo regionalista, endémica.)
ResponderEliminarEsses terão uma secção inteira em sua homenagem ...
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