A propósito de passagem sobre a mulher de Lot, em Caim (de José Saramago), lembro-me de Orfeu e Eurídice, esses desgraçados, e pergunto-me o que tanto enfurece os deuses nas pessoas que olham para trás. A mulher de Lot, transformada em estátua de sal por ter ousado voltar o rosto para as chamas que, nas suas costas, consumiam sodoma e gomorra. Eurídice, devolvida às profundezas do reino dos mortos, pela indiscrição ansiosa de Orfeu, que olhou para trás, para avistar a amada.
Olhar para trás não é apenas uma forma de evitar os espelhos, é a única maneira de compreender o seu reflexo. Talvez os deuses incriminem a autoconsciência. Essa empresa concorrente no negócio monopolista do destino.
Os deuses sempre castigaram os humanos, querem ser únicos e por isso são invejosos quando um humano lhes desobedece ou adquire conhecimento, não passam de bosta de boi.
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