sábado, 2 de julho de 2016

Verões indignos

Sonhei, em tempos, com um pátio andaluz, balouços de verga e almofadas de linho, com vista para a porta de madeira vermelha de uma casa térrea. Era o entardecer e uma guitarra descansava de encontro à cal da parede impossivelmente branca. 
Perguntou-me se os últimos verões foram dignos e, por vício de contradição, obstei ao conceito de dignidade das estações. Então lembrei-me de pequenas felicidades, como a camisola a acordar os nervos dos ombros salgados, a areia encharcada que a última maré do dia estende aos resistentes, o barco abandonado nos juncos que ensombram a barragem vazia, aquele instante em que o corpo cai no sono num colchão a flutuar na piscina silenciosa. Todos eles foram há demasiado tempo.
Percebi o que me queria dizer o sonho. 
É preciso restaurar a dignidade das estações. 


3 comentários:

  1. Pirata

    Pirata de mar y cielo,
    Si no fui ya, lo seré.

    Si no robé la aurora de los mares,
    Si no la robé,
    Ya la robaré.

    Pirata de cielo y mar,
    Sobre un cazatorpederos,
    Con seis fuertes marineros,
    Alternos, de tres en tres.

    Si no robé la aurora de los cielos,
    Si no la robé,
    Ya la robaré.

    Rafael Alberti

    Boa noite, Cuca :)

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