sexta-feira, 29 de julho de 2016

Gaiolas

Pendurados na grande gaiola de grades da cor do falso ouro, despedimo-nos o número de vezes suficiente para entreter uma plateia de deuses entediada até à crueldade. 
Despedir-nos para sempre foi o número circense em que nos tornámos exímios. Creio que vieram de longe, deixando um rasto de pó de estrelas, antes de se sentarem em apinhadas nuvens a ver-nos dançar tangos últimos, uns atrás dos outros. 
Da última vez substituíram-nos o mar por um rio. Há qualquer coisa de definitivo nos rios que não se pressente na infinitude de um oceano único. 
Veio uma noite maior do que as outras e os deuses cobriram a gaiola com um pano de seda azul e esqueceram-se de nós, aqui presos, ao som de uma milena desafinada e sem outro ofício que não seja o de nos despedirmos para sempre. 

3 comentários:

  1. Presos tão só até à próxima despedida que certamente irá fazer esquecer todas as outras.

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    1. De esquecimento em esquecimento até à desmemória total ...
      :)))

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