quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Peso-morto

Diluiu-se na manhã o peso da tua ausência. 
Para se recondensar ao anoitecer,
no interior dos ossos,
que é onde guardo
- como se assim os tivesses deixado esquecidos - 
o infinito azul do mar;
todas as estrelas de Orion;
o declive da montanha;
os ninhos das gaivotas;
a última onda da baía;
um peixe albino cujo nome já esqueci;
o poema embrulhado em cartolina pintada;
mil distintas notas de jazz;
os teus pés egípcios e
o crepúsculo de uma varanda sobre o mar. 
Sou fiel depositária das coisas tuas,
que guardo no interior dos ossos.
E que me pesam, 
ao anoitecer.

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