terça-feira, 8 de dezembro de 2015

O esquecedor

Vigiou-lhe a janela durante crepúsculos a fio na esperança de um vislumbre de intimidade por entre portadas distraídas. Decorou-lhe os hábitos repetidos ao minuto. Forjou encontros com habilidade de assaltante. Construiu pontes com afinco de artesão de outros dias. Cozeu o pão e pescou o peixe. Deu-lhe músicas dos outros e como não chegassem criou-lhe as suas. Escreveu-lhe poemas. Pintou-lhe quadros. Decorou o céu de histórias e fabricou-lhe uma lua. Gastou nisto muitos dias. 
Certa noite, a magia produziu os frutos de mil plantações. Encantado, viu-o dentro dos olhos dela.
Com alívio, pode, então, esquecê-la. 


A partir de uma frase de Jorge Luis Borges, no conto Os Teólogos, do livro O Aleph: 
"Há quem procure o amor de uma mulher para se esquecer dela, para não mais pensar nela;"

10 comentários:

  1. tenho essa página (38, na minha edição) dobrada :)

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    1. Sacrilégio! Dobrar uma página d'O Aleph!

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    2. Nenhuma das minhas quatro (?) edições do Aleph tem uma página dobrada! Nem uma! (Claro que ele acharia um sacrilégio, digo de um Ragnarök).

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    3. As minhas duas edições estão riscadas e anotadas. Acho que é um dos maiores elogios que se pode fazer a um escritor.

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    4. olha, eu não tenho nenhuma edição d'O Aleph..., mas se tivesse dobrava, ai se dobrava...

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  2. pelo prazer da conquista...

    (sinto-me um nabo quando falam de literatura, alguém quer sopa?)

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    1. (só se for de letras :b)
      que risada dei deste lado, ao ler o comentário!

      um abraço a ambos.

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    2. Oh, aqui a literatura é só para disfarçar.

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