domingo, 15 de fevereiro de 2015

Do relativismo

A viúva chora, desamparada, aquele tipo de lágrimas que se choram quando nem sequer se dá conta que se está a chorar.
E então, ouvimo-la dizer para o vazio, em jeito de pedido de desculpas à assistência:
- Como é que isto se faz? Eu nem sequer sei como é que isto se faz...
E nós olhamos para os pés, envergonhados pelas angústias próprias que elevamos à categoria de dor.

4 comentários:

  1. Nunca saberemos o que é a dor até a sentirmos.

    Boa noite, Cuca! :)

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    1. É aquela coisa do quantum doloris. Uma dor graduável, mensurável.

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  2. A falta de alguém que morre, é algo que não se pode descrever ou explicar. Chora-se sem sentir as lágrimas correr, porque inconscientemente sentimos a perda, mas a negação toma conta de nós e nem sei se somos nós quem ali está, se estamos lá fora a olhar para nós próprios sem ainda acreditar no que aconteceu.
    No dia em que o meu pai morreu, assim num instante, agora vejo-te, agora não... fiz tudo, desde contactar todos até escolher o caixão e levá-lo para a igreja. Fumei, comi, contei anedotas, sempre a chorar... que coisa parva de se fazer, não é?

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    1. É mesmo assim, MD.
      Faz-se tudo sempre a chorar. Como se estivesse ali um canal aberto em permanência.

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