domingo, 8 de fevereiro de 2015

Culpar as botas quando a culpa é dos pés

Foi quando reli este diálogo que percebi tudo:
(...)
 ESTRAGON - vamos enforcar-nos agora mesmo!
VLADIMIR - Num ramo? (Aproximam-se da árvore) Não me parece de confiança.
ESTRAGON - Não se perde nada em experimentar.
VLADIMIR - Força!

ESTRAGON - Primeiro tu.
VLADIMIR - Não senhor, primeiro tu.
ESTRAGON - Porquê eu?
VLADIMIR - Porque és mais leve do que eu.
ESTRAGON - Por isso mesmo!
VLADIMIR - Não percebo.
ESTRAGON - Puxa lá pela cabeça.
VLADIMIR - (finalmente) Continuo a não perceber.
ESTRAGON - Então é assim. (Pensa.) O ramo... O ramo...
(Zangado.) Puxa lá pela cabeça!
VLADIMIR - És a minha única esperança.
ESTRAGON (com esforço) Gogo leve - ramo não partir.
- Gogo morto. Didi pesado - Ramo partir.
- Didi sozinho. Porque se - 
VLADIMIR - Não tinha pensado nisso.
ESTRAGON - se puder contigo pode com qualquer coisa.
VLADIMIR - Mas será que eu sou mais pesado do que tu?
ESTRAGON - La isso não sei. O que é que tu achas? Há cinquenta por cento de hipóteses. Ou quase.
VLADIMIR - E então o que é que fazemos? 
ESTRAGON - Deixa estar. O melhor é não fazermos nada. É mais seguro.

(...)

Somos Gogo e Didi, aqui debaixo desta árvore, à espera de Godot. 


Sem comentários:

Enviar um comentário