segunda-feira, 6 de junho de 2016

Remédios contra o amor

Enquanto é possível, e brandos são os impulsos que te agitam o coração 
se estás arrependido, sustém o passo logo à primeira porta;
esmaga, enquanto são novas, as sementes más de tão súbita doença, 
e que o teu cavalo, logo no começo, resista a avançar.
Verdade seja que a delonga dá forças; a delonga amadurece as tenras uvas
e transforma em searas robustas o que antes era erva;
a árvore que fornece abundante sombra ao viandante 
era, no momento primeiro em que foi plantada, um arbusto; 
podia, então, ser arrancada à mão da face da terra;
firma, agora, raízes nas profundezas, com toda a sua força.
Como é aquilo a que tens amor, observa-o com espírito ligeiro 
e livra o teu pescoço do jugo que há-de feri-lo.
Contraria logo ao princípio; tarde vem o remédio, 
quando o mal ganhou força em prolongadas delongas. 

Remédios contra o amor, Ovídio. 

Mão amiga, a minha própria - e logo a direita que é de todas a mão mais amiga que tenho - ciente que se traçam por aí planos de conquista e destruição desse órgão inútil que carrego do lado esquerdo do peito, tirou da estante, daquela parte que fica por trás dos livros que as visitas podem saber que leio, o Remédios contra o Amor e, com pouca subtileza, devo admito-lo, pousou-o sobre o iPad. 
É verdade que foi escrito por volta de 70 a.c., mas isso só faz dele um remédio milenar. Confiável, portanto. 

4 comentários:

  1. Minha querida Cuca, a Pirata,
    Gostei muito deste bocadinho.
    Boa sorte!
    Um abraço,
    Outro Ente.

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    1. Obrigada pela semana em prol da manutenção da linha editorial.
      :)

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  2. Respostas
    1. A minha edição é da Cotovia. É um livrinho muito útil.

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