segunda-feira, 13 de junho de 2016

Campeonatos

A despeito da minha indiferença pelo fenómeno, foi durante um jogo de futebol que vivi os três minutos mais instrutivos da minha vida. 
Foi há muito tempo, noutro Europeu e num outro porto do Atlântico . 
Quando a equipa nacional marcou um golo, penso que nem sequer cheguei a saber contra quem, levantámo-nos ao mesmo tempo que toda a cidade para o comemorar. Então, uma qualquer força ignota derrubou os diques que construí com tanto método e, sem que nada o pudesse prever, travar ou justificar, encontrámo-nos nos braços um do outro e o meu corpo ficou colado ao dele durante muito mais tempo do que aquele que corresponde a um abraço de comemoração de um golo, um festejo entusiasmado, uma alegria partilhada.  Três inteiros, completos minutos. Disse-me um dia quem na altura cronometrou. E foi como se, naquele abraço, não apenas o meu peito e os meus ombros e as minhas mãos e a minha pele, mas o próprio cosmos se tivesse encaixado. E já todas as pessoas haviam regressado aos seus lugares e já a bola rolava num relvado qualquer e já o contador marcava um tempo, quando os nossos cérebros nos devolveram à praça e a uma plateia de atenções divididas entre o ecrã gigante e  aquele indecoroso abraço. 
E foi assim que todos, nós e a cidade, em simultâneo e em partes iguais, descobrimos o amor e o pecado. 

9 comentários: