A insónia saiu de Lisboa, onde pertence, percorreu vários quilómetros e encontrou-se comigo a sul. Passámos juntas a última madrugada, sentadas numa cadeira, na varanda, a ouvir os gritos das gaivotas e a comer gelados.
Juntaram-se-nos os dos costume: Preocupações irresolúveis de índole burocrática que nunca surgem em período diurno; rastos de culpa por pecados prescritos; listas amarelecidas de decisões que não chegaram a ser tomadas; a lembrança de todas as mensagens que ficaram por responder; a sensação de uma antiga presença que é sombra da própria insónia e a acompanha para todo o lado. O cão veio visitar-nos por três vezes e de todas regressou à cama, aliviado, por aquela insónia não ser sua. Reparei que entre a noite e o dia fica uma faixa temporal, índigo, de não mais de dez minutos.
O tempo exato que precisava para revogar todas as decisões conscientes que tomei na vida.
Às vezes penso que aquelas pessoas que não se arrependem de nada são as mesmas que não conhecem a insónia.
"Às vezes penso que aquelas pessoas que não se arrependem de nada são as mesmas que não conhecem a insónia."
ResponderEliminarTalvez conheçam a insónia, mas sabem também que, a partir do presente, não podem julgar ou condenar quem foram no passado, pela simples razão que já não são a mesma pessoa.
Talvez a insónia roube esse tipo de sapiência.
EliminarBoa noite, Miss Smile
Há, é claro, a enorme vantagem da insónia: ver nascer o sol.
ResponderEliminarIsso só é uma vantagem se estivermos lá as duas com uma daquelas máquinas que congelam o nascer do sol!
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