terça-feira, 26 de abril de 2016

Diário de Bordo - A traição de Palmier Encoberto

Foi há tantos setenta anos que ainda eu nem sequer era Pirata. Tinha uma profissão quase honesta e vivia desgastada entre os incómodos de uma existência real e um, admito-o agora, desesperado, projeto de fuga para África com vista à corrupção capitalista de uma qualquer tribo selvagem que me abrigasse. Um dia, que recordo de céu azul-sonho e sol dourado-prozac, recebi o meu primeiro tesouro blogosférico. Era uma medalha de metal fundido por ancestrais mãos de fada, adornada a pó de estrelas e cravada de diamantes feitos de lágrimas de riso de sereia. Tinha a seguinte misteriosa inscrição: "A preferida de Pipoco Mais Salgado". Guardei o meu tesouro por muitos setenta anos. Nas frias noites de amargo nevoeiro, logo a seguir a ser abandonada por mais um namorado desistente que me haveria de render centenas de posts melodramáticos, segurava aquela medalha na minha elegante e pequena não (porém de dedos compridíssimos) e sabia instantaneamente que tudo haveria de ficar bem. Diz-se por aí, pouco importa agora se com verdade ou mentira, que do fundo do meu peito chegou a fazer-se ouvir uma voz gollumniana que murmurava em tom pouco saudável as palavras "my precious".
Por muitos setenta anos me acompanhou a minha medalha, ora exibida no decote, ora protegida de olhares dentro de uma das minhas arcas de Pirata.
Até ontem.
Palmier Encoberto, não há porque proteger da infâmia gatunos, aquela que eu considerava uma espécie de Mary Reed no meu universo de Anne Boney, sob pretexto de querer assistir às comemorações de 25 de abril na Bang & Olufsen que neste navio instalámos de propósito para o efeito (usar o verbo comprar já seria manifesto exagero), instalou-se ontem entre nós.
Quando esta noite fui confrontada com isto, corri ao baú onde guardo o de mais valioso que a vida me deu (o cartão de crédito; uma carta já rota de tanto lida em que um louco promete amar-me; um búzio estropiado; uma fotografia de quando era nova; os poemas do Borges e a medalha de preferida do Pipoco Mais Salgado). 
Sem espanto algum verifiquei que essa senhora com nome de bolo de pobre que antes cheguei a considerar uma Mary Reed, apropriou-se da minha medalha e anda por aí a exibi-la.
Não gosto de arrastar esta brava tripulação pirata para empresas de finalidades individuais. Mas quando a honra de uma capitã está em causa, o único caminho possível é a espada. 

26 comentários:

  1. lamento informá-la cara Capitã, mas já me encontro no lado inimigo... sim, eu aprecio bolos de pobre! é mais uma das minhas fraquezas...

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    1. Mercenário!!!
      Vou ver o que diz o regulamento a propósito de deserções!

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    2. Já vi. Diz "corteeeeeeem-lhe a cabeeeeeça"
      (Fiz o regulamento quando ainda era a rainha de copas)

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    3. é bastante simples, Cuca... eu não queria dizer isto mas a verdade é que eu sou a preferida blogui et orbi!

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    4. Ai sim? E saberás por acaso onde está agora a petitte rafeira que usas para manipular o coração dos leitores incautos?

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    5. Ora Manel, bem sabes que só ganho mesmo quando escreves uma crónica retrospetiva sobre a aventura.

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    1. Consigna-se que, neste momento, foi informado que tem o direito ao silêncio sem que isso o possa prejudicar.

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  3. Estive à conversa no café e o Capitão Mancha disse-me que gostaria de beber rum com a mui admirável Capitã Cuca.

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    1. Quem é esse? É garboso? Tem embarcação própria?

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    2. Infelizmente, Cha está a seco. A última embarcação despediu-o porque teve de fazer cortes na despesa com engajados porque se soube entre a tripulação que um gestor de fortunas tinha penhorado a embarcação.
      De qq modo, só tenho a abonar em favor dele, excelente moço!

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  4. E eu pensava que bolos de pobre eram bolinhos de chuva... afinal parece que não é chuva, não... prepara-se sim um temporal daqueles ( ou d'Aquiles, que tenho coceira no calcanhar esquerdo).
    Só lhe peço que nºão mostre a Cutxi aos Chineses.

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  5. (e eu a pensar que a traição tinha sido do Pipoco...)

    (pff... mulheres...)

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    1. Sinceramente não percebo o que andas a fazer... uma pessoa não tem mãos a medir, a ser bombardeada por todos os lados, a precisar de reforços e tu em vez de ires buscar o chaimite estás aqui na descontra...

      (provavelmente também ficaste ciumenta por causa daquilo de eu ser a preferida, não é?)

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    2. :b (eu estou, divertida, mas a salvo, a assistir à guerra dos Blogues)



      (um beiço maior que a cauda da diana)

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    3. (e sabes como é isto das mulheres e do Pipoco. não me posso por em bicos dos pés, tu e a Cuca são pesos pesados. quer dizer, não que estejam gordas, nada disso... quer dizer... pois... ou isso...)

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    4. Apelo: Eu estou disponível para preferir qualquer uma das preteridas.

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    5. Flor, vejo que essa espia de padaria de esquina veio aqui tentar arranjar reforços para a sua causa perdida.

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    6. Seria uma honra, senhor ministro. Mas sucede que eu já sou a blogger preferida do Pipoco Mais Salgado e tenho um certo receio que me comecem a tomar por monopolizadora de adoradores...

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    7. (e qual é o subsidio, sr. Ministro?)

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    8. Estava a pensar numa coisa romântica. Uma preferência por amor. Depois podíamos trocar posts enamorados e essas cenas. O que me diz?

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    9. pff... políticos, sempre a tentar passar-nos a perna.

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