segunda-feira, 18 de abril de 2016

Space Dementia

A montanha esqueceu-me.
Havia uma árvore com o meu nome nela inscrito mas o vento derrubou-a e os pássaros já lá não fazem ninho. 

A casa esqueceu-me.
Ninguém sabe quem pintou o quadro pendurado na biblioteca e lavaram do chão da sala a nódoa de vinho. 

O cais esqueceu-me.
Há um barco a mais nas noites de luar que já não dança com as ondas um tango de destino. 

A praia esqueceu-me.
Mil grandes marés desfizeram o palácio de areia, promontório de estrelas onde perdemos o caminho. 

Devolvo-te inocentes as ruas, 
purificados os crepúsculos, 
desinfetados os sonhos, 
esquecidos todos os olhares.

E este meu silêncio 
é o cumprir da música 
na montanha; 
na casa; 
no cais;
na praia.

A paz que se levanta do tempo e que nos torna insignificantes. 
Outra vez.
Uma outra vez
Mais.










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