e do mar tens a voz rouca,
e sempre os olhos secretos,
de água viva entre silvas,
A fronte baixa como
um céu de nuvens baixas.
De cada vez renasces
como uma coisa antiga
e selvagem, que o coração
já sabia e cala.
De cada vez é um rasgão,
de cada vez é a morte.
Combatemo-nos sempre.
Quem aceita o choque
tomou o gosto à morte
e leva-o no sangue.
Como bons inimigos
que não mais se odeiam
somos uma mesma
voz, uma mesma pena
e vivemos ofendidos
sob um céu miserável.
Entre nós não há a insídia,
não há coisas inúteis -
combateremos sempre.
Combateremos ainda,
combateremos sempre.
Pois perseguimos o sono
da morte lado a lado,
e a nossa voz é rouca
a fronte baixa e selvagem
e um céu idêntico.
Fomos feitos para isso.
Se um de nós cede ao choque,
segue uma longa noite
que não é paz nem trégua
e não é morte verdadeira.
Tu já não existes. Os braços
agitam-se em vão.
Até que o coração nos trema.
Disseram um dos teus nomes.
A morte recomeça.
Coisa ignota e selvagem
renasceste do mar.
Cesare Pavese, in Trabalhar Cansa
Ainda não tive oportunidade de ler um livro inteiro de Pavese, apenas excerptos, não sei muito sobre ele, sei que era suicida, mas gostaria de saber se ele estava em guerra com a mulher (real ou imaginária) ou se só com ele próprio. Neste último caso, será mais grave pois sente-se, duplamente (as do 'eu' e as do 'outro') com mais violência, as palavras duras.
ResponderEliminarNunca tinha pensado muito nisso porque deu-me mais jeito interpretar o poema como dirigindo-se a outra pessoa. Mas agora que falas nisso, penso que se está a referir a si próprio.
EliminarEle falava muito consigo próprio, como se fosse "ele", tratando-se por tu, tal como as pessoas que não têm, por vezes, interlocutor à sua altura, ou nenhum mesmo. E com a lullaby, cheguei até aqui.
EliminarDeveria tê-la ouvido ontem. Tinha dormido melhor. :)