Ontem foi dia de reflexão e nós, neste navio, apesar de vivermos no fio da navalha naquilo que a regras diz respeito, procuramos cumprir uma ou outra só para nos irmos lembrando de como é.
Logo pela manhã, mal saltei da cama, decretei vinte e quatro horas de reflexão obrigatória e usei o papagaio como método de difusão da mensagem. Dois minutos depois, como sempre acontece quando mando alguma coisa neste navio, começaram os problemas. Confesso que o maior de todos e que admito não ter tido capacidade de antecipar, é que boa parte destes bravos Piratas nunca na vida tinha feito uma reflexão e, como tal, não fazia a menor ideia de como é que isso haveria de ser. Pressentindo a importância da coisa pelo tom formal do papagaio, formaram uma fila ordeira à porta da minha camarata e munidos das suas dúvidas, blocos de notas e Ipads (no caso do bloggers e dos presidiários) ficaram à espera que saísse para me cobrarem explicações. Meia hora depois já toda a gente sabia que tanto se pode reflectir sentado, como de pé e que não é indispensável um outfit especial para a reflexão. No entanto, ainda havia quem duvidasse da possibilidade física de se reflectir enquanto se come e sobretudo (mas expliquei-lhes que isto não é válido para iniciados) enquanto se lê um livro ou enquanto se dormita.
Enquanto os deixei entregues aos seus afazeres reflexivos, comecei eu própria a reflectir no que tinha acabdo de fazer e apercebi-me que, contagiada lá pelas bizarrias da Comissão Nacional de Eleições, cometi um erro perigoso.
Toda a gente sabe que o regular funcionamento de qualquer instituição depende, antes de qualquer outra coisa, da irreflexão sobre os seus alicerces. Vinte e seis Piratas sozinhos num navio a reflectir cada um para seu lado é o equivalente a lavar o convés com nitroglicerina e depois lembrar-me de o decorar com velas.
Mandei imediatamente o papagaio informar que o período de reflexão tinha sido abortado.
Pensei em organizar uma festa para dissipar qualquer resquício de efeito que um pensamento mais livre pudesse ter provocado na minha tripulação.
Mandaram avisar que estavam:
A) com dores-de-cabeça;
B) deprimidos;
C) ocupados a tentar o suicídio.
eram 26... quantos serão agora?
ResponderEliminarAgora, contigo, somos 27, claro!
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