terça-feira, 22 de março de 2011

CXX


"Cento e quatro dias
que fazem as férias
e a escola acaba com elas.
mas o grande problema
que todos vivemos
é saber como aproveitá-las
..."

Assim começa a canção de abertura de uma das séries de desenhos animados preferidos das minhas filhas mais velhas retratando o dilema que eu supunha ter de enfrentar nos últimos cento e vinte dias.
Puro engano.
Em boa verdade, nos últimos cento e vinte dias, o dilema que se me apresentou foi sempre o de decidir que tarefa realizar em primeiro lugar por forma a que o equilibrio da gestão da vida familiar não fosse perturbado.
Tarefa àrdua, como é bem sabido, numa familia recentemente alargada.
Devo ainda confessar que, neste período, mantive ao serviço a empregada doméstica a quem demovi de se reformar há seis meses atrás, alegando ser-me impossível ficar de licença de maternidade sem os seus serviços. A contragosto lá se comprometeu a ficar até eu regressar ao trabalho.
Agora anda a instruir a empregada nova.

Assim, aos cento e vinte dias já o tempo os levou (felizmente os de Inverno) e eu nada fiz.
Não li um livro, nem uma revista de fio a pavio.
Não li o jornal diariamente. Acumulei semanários sem tocar em muitos dos cadernos e lambi "as gordas" dos restantes.
Não ouvi um album completo, só os hits do momento, no rádio do carro furtuitamente sintonizado.
Não escrevi um post. Não tive uma ideia nem condições de abrir o portátil (a não ser às onze da noite, quando o marido reclamava a minha companhia).
Fui três vezes ao cinema, duas delas para ver desenhos animados.
Continuei sem ver televisão, à excepção dos canais Panda, Disney e Nickelodeon, como, aliás, desde há quase quatro anos.
Fui uma vez ao teatro. Ver a "Mãe Coragem e Seus Filhos" (foi o que se arranjou).
Dormi alguma coisa.
Não apanhei chuva, nem suportei o frio.

Tive uma existência profunda como uma lente de contacto.
Mas passei horas perdida nos olhos da minha bébé.

Amanhã vou voltar ao trabalho.
Hoje fui almoçar à praia. E o sol apiedou-se de mim, e escondeu-se atrás das nuvens.

3 comentários:

  1. Festejemos, então, o fim do congelamento cerebral... :))

    ResponderEliminar
  2. Até que parece que tenho um dispositivo interno que sabe exactamente quando é altura das sinápses.
    Ainda agora voltei a produzir alguma coisa por este triste e moribundo país e já me sinto a fervilhar...

    ResponderEliminar
  3. é tão bom estar no estaleiroooooo...! até ao dia em que as tardes de TV começam a parecer interessantes... :D

    ResponderEliminar