domingo, 15 de novembro de 2015

Ana amava Bruno que amava Carlota que amava Diogo que amava Eduardo

Foi uma cerimónia de indiscutível bom gosto. 
A noiva, sóbria e elegante, por entre camélias, a atravessar a nave da igreja, enfeitada por um sorriso distinto coberto pela mantilha de uma bisavó de sangue azul. A distinção do sacrifício, pensou Bruno quando a noiva passou por si de olhos menos brilhantes do que na véspera, concentrada em não o ver. Procurou reprovação no olhar de Carlota que, protegido pelo enorme chapéu, conseguiu não ser surpreendido em plena atividade desdenhatória, caído sobre a figura esguia de Eduardo.
O padre, o mesmo que os tinha batizado a todos, tradição que sempre acompanha as mantilhas das bisavós de sangue azul, fez uma pausa de três segundos depois de perguntar se havia ali alguém para se opor ao casamento. 
Mas Bruno olhou para chão, perante o desgosto de Ana, a indiferença de Carlota, o reacender da vaga esperança de Diogo em livrar-se desta última e a figura esguia de Eduardo que, oportunamente, consultava o relógio.
Com o alívio das coisas concretizadas, que é comum ao bem e ao mal, todos ficaram a saber que não havia ali ninguém para se opor ao casamento.
E foi assim que, sem alternativa, o casal saiu unido por entre as mesmas camélias na direção de um perfeito céu azul em cambiantes de prata.
Xavier, ao menos, era um noivo genuinamente feliz.
Os homens não imaginam aquilo que algumas mulheres são capazes de fazer por um pouco de sossego. 

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