Sabes, aqueles dias em que o nevoeiro se instala entre o umbigo e o esôfago e é como se os teus passos na rua ecoassem as notas tristes do piano decrépito e curvas-te para a frente como quem melhor acolhe a carga densa do cinzento em ti?
Sabes, aqueles dias em que as gaivotas gritam a dor a que ensurdeceste e o céu fica apenas a centímetros da linha que delimita a tua cabeça e os olhos das pessoas na rua parecem-te terríveis?
E então revês os truques que te ensinaram nas revistas das salas de espera dos curandeiros e aqueles que aprendeste nas noites brancas e começas por imaginar a luz dourada e quente que não te chega a aquecer o peito e recordas versos de poemas lavados de história mas antes do terceiro estás a projetar imagens de uma qualquer infância que deve ter sido feliz e por fim concentras-te nos movimentos do teu corpo e dás precisas instruções aos pés para que se dirijam a casa.
E depois em casa,
Coisa nenhuma, amor.
A chávena partida,
Um lápis perdido,
O relógio parado,
A folha rasgada,
O silêncio da porta,
E até aquela teia.
Coisa nenhuma, Amor.
Sabes, aqueles dias em que a noite nasce na alvorada?
sim
ResponderEliminar(e, a propósito, excelente)
Obrigada, a propósito.
EliminarThe night is long that never finds the day, diria Shakespeare.
ResponderEliminarBoa noite, Cuca.
Ou, na versão moderna, "a new day will came at last"
EliminarBoa noite, Xilre
Quem nunca se sentiu um robot sem ânimo?
ResponderEliminarAh, mas aos robots sempre lhes resta a eficiência! :)
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