domingo, 25 de janeiro de 2015

A Rainha de Ítaca



Há muitas formas diferentes de se fingir tecer um sudário, fazendo os nós de dia à vista de todos e desfazendo-os em segredo ao cair da noite. 
Também a rainha de Ítaca, que passou mais de vinte anos à espera de Ulisses, deve, nalgum momento, ter desacreditado na possibilidade de reunião com o amor. Terá continuado, ainda assim, a travar o fluir da vida com o pretexto de um trabalho que, uma vez perdida a esperança, transformou-se na tecelagem da sua própria solidão. 
Nessa altura, sem a âncora da esperança nem o orgulho da fidelidade, também à rainha de Ítaca deve ter-lhe parecido ridícula a sua abnegação. Absolutamente ridícula. 

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