domingo, 25 de setembro de 2016

Essa outra Pirata

A mim não me puxa a compaixão, estou do lado deles, homens ruins de gengivas rotas, sou eu a mulher que têm durante as travessias, mulher incompleta e de pau, a quem entregam todos os terrores,
todos os clamores,
a quem acendem velas e renovam promessas. Sou eu que sei dos seus últimos cuidados, quando perdem um pé neste mundo e entram com o segundo no outro. Homens rudes, que arregaçam as mangas e mostram as cicatrizes, as tatuagens, corpos martirizados, tornam-se outra vez tenros, iniciais, limpos e pequeninos e chamam pela mãe. Ninguém, só eu, os consegue ouvir na transição. 

Ana Margarida de Carvalho, in, Não se pode morar nos olhos de um gato, Teorema

4 comentários:

  1. Tenho para ler "Que importa a fúria do mar", gostaria de saber se este vale a pena. Obrigada

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    1. Ainda só li pouco mais de um terço. O primeiro capítulo é um assombro de bom. Mesmo que o resto do livro não seja assim (parece-me difícil manter aquela intensidade ao longo de tanta página) só o primeiro capítulo vale o livro.

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  2. Ai que já me tramaste! Adorei o 1º romance dela, mas de paixão, e agora pimbas, outro na calha.

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